O sonho de qualquer político é ver repetida, por todos, uma frase da sua autoria... exceto se a mesma, em vez de ser um troféu for antes uma proclamação falhada ou que o tempo se encarrega de demonstrar ser, claramente, um erro. Foi assim com Passos Coelho quando ameaçou com a vinda do Diabo e a geringonça se veria em tais apertos que tudo quanto o governo fizera até então teria de ser, inexorável e vingativamente, revertido. António Costa e todos os seus apoiantes e seguidores repetiram, até à exaustão, que continuavam à espera do mafarrico, cada vez que o seu antecessor criticava o que quer que fosse na atuação governamental. Tivesse o social-democrata nervos de aço, como se espera de um estadista, e tendo aguentado até março de 2020, poderia reclamar a chegada do belzebu, vindo do oriente, em forma de coronavírus. Contudo, é óbvio que não era este o tipo de efeito anunciado pelo anterior primeiro-ministro. Dado que, reconhecidamente, não tem poderes divinatórios, foi vítima do excesso de confiança, de uma análise errada e, sobretudo, da ausência da necessária prudência. Que venha o primeiro político a atirar uma pedra! Excesso de confiança (a raiar a arrogância), erro claro de análise e total imprudência levou o atual ocupante de S. Bento a qualificar como excelente o atual ministro da Administração Interna, julgando, com isso, estancar a avalanche de críticas de que estava a ser alvo. Excelente, porquê? Porque assim o entende António Costa que tem o direito de fazer a avaliação pessoal que muito bem entender. Contudo Eduardo Cabrita não é um assessor ou consultor da Presidência do Conselho de Ministros cuja competência deveria ser ajuizada pela chefia governamental e pronto. O governante é mais que isso. Sendo ministro, a sua atuação tem de ser positiva não só na perspetiva do chefe do governo, que, sendo imprescindível, não é suficiente pois que o que faz, bem ou mal, tem boas ou más consequências para o povo português que é quem deve superintender a todos os desígnios da administração pública. Não sendo excelente, porque, obvia e objetivamente, não é, vai cometer falhas e a cada falha do seu amigo, companheiro político e camarada de governo, António Costa vai ouvir a repetição enfática, corrosiva, acintosa de que aquele “belo serviço” é obra da excelência do seu Ministro da Administração Interna. O caricato é que se está mesmo a ver que a distância para a excelência é tão grande que o próprio Primeiro Ministro discorda da sua própria avaliação. E, sendo um dos políticos mais experientes no ativo deveria estar devidamente avisado para este tipo de deslize. Mesmo que estivesse convencido que a sua análise estava correta, como, seguramente pensava Passos Coelho com o anúncio da vinda do Diabo, deveria refletir no velho e acertado rifão popular que estipula que ninguém é bom juiz em causa própria e ponderar bem antes de emitir juízos que lhe marcarão a atuação governativa. A propósito da exaltação de qualidades, há algum tempo, uma pessoa amiga dizia- -me, a propósito de alguém: “Se pudesses comprá-lo pelo que ele realmente vale e vendê-lo pelo que ele acha valer, fazias um excelente negócio”. Não pude deixar de me lembrar, neste período eleitoral, de alguns autarcas que se os seus eleitores o comprassem pela sua real valia e vendessem pelo valor que eles garantem ser o seu... o ganho era tanto que ficavam todos os munícipes ricos!