A economia portuguesa, contrariamente ao que muitos profetizavam e esperavam, e uns tantos até desejavam, não se afundou em 2016, mas nada garante que não se afunde em 2017 ou 2018.
Inesperadamente até melhorou. Muito pouco, é certo, mas melhorou. Por isso o Governo tentou abocanhar a glória do feito, de duvidosa genialidade, muito embora o país continue a chafurdar no lixo e os portugueses continuem a não ter motivos para sorrir.
O senhor Presidente da República, porém, como é seu timbre e talento, veio pôr um pouco de justiça e afecto na matéria, dizendo que o mérito também é do Governo anterior, de Passos Coelho, seu amigo do peito.
Certo é que para este aparente sucesso muito contribuiu a afeição platónica de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa por um lado e os afectos mundanos de António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, por outro, que, apesar de tudo, lá vão garantindo o funcionamento da “geringonça”.
Os mais entendidos acrescentam que também deve ser tido em conta Mário Draghi, o atual feiticeiro-mor do Banco Central Europeu, com o seu programa de compra de dívidas soberanas. Outros feiticeiros menores, porém, atribuem o sucesso a sortilégios dos satânicos mercados financeiros.
Seja como for as coisas são como são pelo que, com ou sem feitiços, a bolsa do portuguesinho vulgar vai continuar a mirrar enquanto as dos políticos e banqueiros topo de gama incham que nem sapos de encantamento.
Indiferentes a estes resultados as agências de notação financeira continuam a manter a economia portuguesa no nível lixo para onde a remeteu a Moody`s, que foi a primeira, em 2011, já lá vão seis anos, portanto.
Ainda que mais recentemente a canadiana DBRS tenha aliviado tal estigma ligeiramente motivando declarações de grande contentamento do Presidente da República e do Primeiro-ministro.
Esperemos que, na passada, as forças que actualmente concertam o arco do poder, um arco-íris a que o povo também chama arco-da-velha, não embandeirem em arco e substituam definitivamente o escudo e a esfera armilar da bandeira nacional por um monte de lixo.
Sim, porque a classificação das agências de “rating” parece eternizar-se, o motor da economia nacional é cada vez mais o turismo de Lisboa e do Porto, e afins, e Portugal uma coutada onde a finança internacional caça livremente as poupanças das famílias lusas. Para lá de que o investimento está encalhado, a dívida pública não pára de aumentar e quanto a reformas sistémicas nem pensar.
Não há razões para se dar mais crédito ao Governo português do que à OCDE cujos dados mais recentes indicam que a economia portuguesa não crescerá acima dos 1,3 % nos próximos dois anos, quando necessário seria que se aproximasse dos 5 %.
Não basta que a economia cresça, portanto. É imperioso que cresça o suficiente e que a dívida pública páre de aumentar. Não adianta esconder o lixo debaixo do tapete,
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.