Ter, 13/03/2018 - 10:40
Com púlpito cativo numa das televisões, esta senhora integra uma espécie de senado imaginário, uma câmara dos lordes informal, já que os pares do reino perderam o assento quando Manuel II embarcou na Ericeira para o exílio britânico.
Manuela Ferreira Leite é figura do regime, que continua a andar por aí. Há quem lhe aprecie a secura, o sentido prático de guarda-livros a lidar com o deve e haver, as palavras duras para a democracia e, especialmente, para alguns correligionários, que não se livram das suas proclamações e sentenças a raiar a acrimónia rabugenta da patroa para a criadagem.
É verdade que já houve jovens que lhe mostraram acintosamente o traseiro e, por isso, foram considerados de uma geração rasca. Alguns anos depois talvez tenham aplaudido propostas da tia, para que o mundo, seguro e tranquilo, não fosse posto em causa por radicalismos ainda mais estonteantes.
Entretanto, a respeitável senhora já não gasta tempo nem rancores com rabos alçados contra o pagamento de propinas, aliás paulatinamente instaladas, tornadas consensuais, mesmo virtuosas para o funcionamento do ensino superior público. Vale a pena lembrar que tudo aconteceu no tempo em que proliferaram universidades privadas nas grandes urbes, empresas efémeras, mas que garantiram chorudos lucros para grupos de “empreendedores” que se mudaram para outros ares, depois de embolsar milhões, pagos por todos nós. De facto, em nome da igualdade no acesso ao ensino superior, os alunos que frequentavam as universidades privadas tiveram direito a subsídios ao longo dos cursos, apesar de graves dúvidas sobre a qualidade da formação ali ministrada.
Podia ter-se feito de outra maneira para proveito do país, criando uma rede de ensino superior que ajudasse a inverter os desequilíbrios territoriais, mas águas passadas não movem moinhos.
Quando, recentemente, o ministro Manuel Heitor anunciou uma pequena redução de vagas nas universidades de Lisboa e Porto, a redistribuir pelo interior, Manuela Ferreira Leite não resistiu e ironizou, declarando que se tratava de medida ingénua e ineficaz. Alegou que tal decisão só prejudicaria os menos favorecidos do litoral, porque os que tivessem meios rumariam a Londres ou inscrever-se-iam numa qualquer universidade privada.
Isto demonstra o distanciamento da senhora relativamente ao país. Compreende-se que menina fidalga, que estudou em casa, com preceptor, até ao fim do primeiro ciclo dos liceus, habituada ao séquito de serviçais, não vislumbre senão Londres para atingir graus académicos e prestígio entre seus pares, por entre gritinhos e suspiros à hora do chá, no Restelo, é claro.
Mas, quando nos lembramos que foi ministra da educação e das finanças e liderou o partido que ainda é o mais votado deste país, deixamo-nos de cerimónias e dizemos à dama que o país é muito mais que a marginal do Tejo e o aeroporto da Portela seria um bom lugar para se despedir, a caminho das neblinas da velha Albion, onde poderá integrar uma qualquer brigada do reumático, em vez de continuar por cá a tratar-nos como um bando de pategos.
Teófilo Vaz