Tradições religiosas e pagãs da Páscoa

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Ter, 22/03/2016 - 10:49


Os autos da paixão, as endoenças e as vias-sacras traduzem cenários de luto, de reflexão dolorida, expressos dos tons roxos e negros das celebrações".
Em contrapartida, a "queima do Judas e o enterro do bacalhau representam impulsos eufóricos de catarse e libertação perante os constrangimentos quaresmais".
a tradição dos "sete passos" mantém-se em Freixo de Espada à Cinta como "caso único no país".
Em plena escuridão e ao soarem as badaladas da meia-noite, dois homens encapuçados de negro arrastam pela calçada correntes de ferro, num ritual que prossegue com uma "velhinha" coberta por um negro manto e capuz, que transporta numa mão uma lamparina de azeite, um cajado e bota de vinho.
Mais comuns em Trás-os-Montes são, segundo o investigador, os autos da paixão, enquanto representações de teatro popular, que narram os últimos dias de Cristo, desde a traição até à morte e deposição na cruz, e envolvem dezenas de figurantes que representam, por exemplo, Cristo, Judas, Caifaz, Pilatos, Fariseu ou o Diabo.
Algumas aldeias,  ainda conservam as 14 cruzes, ou cruzeiros, que representam as 14 estações que a via-sacra cumpre simbolizando o calvário de Cristo a caminho da crucificação.
No concelho de Vinhais, "a vida dos Agricultores muda radicalmente a partir de Quinta-Feira Santa".
Em muitas aldeias, ao meio dia toca o sino e as pessoas param por completo de trabalhar mal ouvem soar a primeira badalada e, com exceção dos mínimos afazeres domésticos, ninguém trabalha nas aldeias até sábado à mesma hora.
Em Vinhais está também "muito viva" a tradição das endoenças, um ritual que narra "a procura desesperada de Cristo por Nossa Senhora".
Antigamente  na Sexta-feira Santa muitas pessoas não se penteavam "para não arrepelar nosso Senhor" nem estediam a roupa "porque se manchava de sangue"
e assim respeitavam o luto pela morte de Cristo.
Em Bragança já se perdeu a tradiçao de se correr as igrejas na Quinta -feira Santa a partir das oito da noite até a meia- noite visitavamse as igrejas todas da cidade que estavam abertas nesse horario e no Sábado de Aléluia  há cerca de 35 anos ainda se queimava o judas.
Em Montalegre, mantém-se a Queima de Judas, no sábado que antecede a Páscoa, uma tradição onde se representa o julgamento de Judas Iscariotes, por ter traído Cristo por "trinta dinheiros".
Já em Constantim, Vila Real, subsiste a tradição do "enterro do bacalhau", ritual que consiste em escoltar um "bacalhau enorme feito de cartão por militares, o qual, por sua vez, é julgado perante carrascos, juízes e advogados".
O castigo a incidir sobre o bacalhau simboliza a libertação dos constrangimentos da Quaresma, que não permitia o consumo de carne.
Por fim, no domingo de Páscoa e na Segunda de Pascoa  realiza-se o compasso ou o afolar, que se traduz num cortejo presidido pelo pároco. Seminaristas e leigos que visitam as casas dos fiéis dando a cruz a beijar e aspergindo com água benta os compartimentos.
A tradição gastronómica transmontana neste período incide sobre a confeção dos folares que, após o prolongado jejum da quaresma, aparecem recheados das melhores carnes.
Isto, apesar de se estarem a espalhar também pela região os novos hábitos "consumistas" dos ovos e coelhos da Páscoa.