Reciclar garrafões para ganhar morangal

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Ter, 17/03/2020 - 15:14


Como estão os leitores da página do Tio João?
Nós cá estamos, muito preocupados com a situação provocada pelo Coronavírus e temos elucidado a nossa família de que beijinhos e abraços só no nosso programa, através da rádio. Nota-se que há mais participações porque as pessoas precisam de desabafar. As pessoas que rezam oferecem as suas orações diárias para que haja em breve uma cura para o vírus.
As feiras onde iríamos estar a fazer o programa em directo foram todas canceladas. Também estivemos presentes no último adeus a Manuel Avelino Cruz, irmão da tia Isaura e cunhado do tio Manuel da Torrié, que foi vítima do acidente ocorrido em Murça, durante a prova de automobilismo. Paz à sua alma e os sentimentos à família enlutada.
Nos últimos dias parece que estamos no Verão, pois foram abençoados pelo ‘sem vento’. As nossas gentes já andam de tractor nas mãos a lavrar as terras.
Nestes últimos dias festejaram o seu aniversário connosco José Pereira Vieira (77), de Bragança; Bernardo Brilhantino (95), de Saldonha (Mogadouro); Rosa Terra Ribeiro (82), de Possacos (Valpaços); Alice Fernandes (85), de Alfaião (Bragança); Maria Emília (36), de Lodares (Vila Real); Marcelo Esteves (24), de Ousilhão (Vinhais); Francisco Duarte (24), de Mirandela; Christoph Hostetter (57), marido da tia Irene da Suíça; Manuel Duarte (56), de Salselas (Macedo de Cavaleiros) e Lurdes Pássaro (61), de Grijó (Bragança). Que voltem todos a festejar connosco para o ano.
Neste número vamos conhecer melhor um pouco da vida da nossa tia Edviges Silva.

Edviges Afonso Silva nasceu a 12 de Janeiro de 1950, na vila de Alfândega da Fé, onde, na altura, o seu pai estava colocado como GNR. Passados dois anos o pai, natural de Miranda do Douro, obteve colocação em Vimioso, pois naquele tempo os guardas não podiam ser colocados no concelho de onde eram naturais, mas sempre estava mais perto. Por este motivo, a tia Edviges diz que a sua terra é Vimioso. “Os meus pais compraram casa e terrenos agrícolas em Vimioso, onde passei toda a minha infância e fiz a 4.ª classe. A minha mãe era muito severa, tipo militar, e quando eu já era adolescente, não me deixava ir aos bailes, nem para lado nenhum. Fechava-me em casa. As minhas amigas iam à minha procura e a minha mãe não me deixava ir com elas, mas eu lá arranjava maneira de me escapar. Quando regressava já sabia que era de vassouro. Batia-me muito. O meu pai passava pouco tempo em casa e muito no quartel e eu é que lhe levava o almoço e o jantar, que comia com ele. Tive dois irmãos mais velhos que estudaram no seminário, mas eu, depois da 4.ª classe, ainda aprendi costura e quando fiz 18 anos uns amigos da família levaram-me para a França. O meu futuro marido já estava lá, pois tinha fugido à tropa e à guerra do ultramar, a salto, para a França. No ano seguinte, com 19 anos, casei-me com Augusto Brás, nascido e criado em Vimioso, e que eu já conhecia. O nosso casamento durou 47 anos e tivemos um casal de filhos”.
Depois do 25 de Abril tentaram refazer a vida em Portugal, mas as coisas tinham piorado e voltaram para a França, deixando os filhos em Vimioso com a sua mãe. “Como a saudade de mãe era muita, eu vinha minhas vezes porque não me adaptava sem eles e depois de fazerem a 4.ª classe, regressei de vez, mas o meu marido ficou na França até atingir a idade da reforma, embora viesse cá no Natal e na Páscoa e nós íamos nas férias do Verão visitá-lo a França, período que eu aproveitava para trabalhar a substituir pessoas que vinham de férias para Portugal no mês de Agosto”. Com as lágrimas nos olhos, a tia Edviges confessou-nos que a pior fase da sua vida foi aquando da morte do seu marido, pois “os outros obstáculos da vida, foram sempre ultrapassados com a sua ajuda”. Este casal já era nosso ouvinte e participante no programa, e por isso acompanhámos a doença e morte do seu marido, através dos telefonemas da tia Edviges. Actualmente, passa temporadas no Porto, com o filho e em Lisboa com a filha. Quando está por Bragança, dedica-se muito ao seu quintal, que era uma grande paixão do seu marido e que para ela é uma boa terapia e colhe um pouco de tudo. O facto mais curioso é que tem no seu quintal uma plantação de morangos em garrafões de água. “Muitas das minhas amigas e vizinhas vêm deixar-me os seus garrafões vazios para eu os utilizar. Agora estou a replantar o morangal e alguns já têm flor. Lá para o fim de Abril já conto ter morangos para deliciar os meus netinhos”.