A família do Tio João, a família do piquenicão

PUB.

Qua, 21/06/2017 - 14:20


Olá familiazinha
No próximo Domingo, 25 de Junho, é o grande encontro anual da maior família radiofónica do mundo.Vimioso recebe este ano o 28º Piquenicão da família do Tio João. Vai ser no pavilhão multiusos, que está preparado com ar condicionado, muitos lugares sentados e mesas para saborear e compartilhar as nossas merendas. Desta vez não estamos preocupados com as condicões do tempo como todos os anos. Sinta-se convidado e apareça para fazer mais forte a nossa família.
Na semana passada festejámos a vida da tia Filomena, de Bragança, 69 primaveras, e da tia Áurea, da Especiosa, Miranda do Douro, três quarteirões. Soubemos também de mais duas centenárias, uma de Miranda do Douro e outra de Rebordelo, Vinhais.
Ficámos muito tristes com a morte da nossa tia Amália Rodrigues, de Cidões, Vinhais. Era ouvinte e participante assídua desde que começou a família. Há cerca de um ano dedicámos uma página à sua arte de cesteira, com o título “Amália Rodrigues esta não é fadista, é artista”. Os nossos sentimentos para o marido e filhos e para a aldeia de Cidões, que chorou muito a sua partida. Que tenha tantos anjinhos a recebê-la como vezes conviveu connosco. Paz
à sua alma.
Hoje a nossa tia Irene deixa-nos a sua visão da família do Tio João.

 

Amizade todos os dias
São 7 horas da manhã na Suíça. Os nossos filhos estão sentados à mesa para tomar o pequeno-almoço ou já se encontram na escola, consoante o dia da semana. Neste preciso momento, são 6 horas da manhã em Portugal e eu sei que a Tia Padeirinha, de Lagoa, já deve estar de volta à padaria, a preparar o seu delicioso pão de azeite. Outros darão ainda algumas voltas na cama, mas já ouvem o programa graças ao rádio despertador. Há ainda quem já se tenha levantado e, ao som da rádio, já esteja, se for verão, a dar de comer às galinhas e aos porcos ou, quando faz um tempo muito quente e seco em Portugal, a regar a horta. Esta é a hora da família do Tio João, o momento de referência na vida de milhares de pessoas. Na rádio, trocam-se impressões sobre a produção da castanha, o crescimento da uva e a altura das vindimas. Os ouvintes recebem ainda a informação sobre os aniversariantes do dia, sobre doenças, acidentes, óbitos e datas de funerais. Porque isto também faz parte da grande família do Tio João: partilham-se problemas e preocupações, alegrias e festejos e as pessoas tentam ajudar-se mutuamente, na medida do que lhes for possível. Cada um contribui com aquilo que está ao seu alcance. Um sabe tocar um instrumento, outro sabe cantar uma música ou escrever um poema. Uns prontificam-se a pôr as mãos à obra em situações de emergência, outros contribuem com ajudas para atenuar o sofrimento.
Poder-se-ia dizer que o Tio João é um dado adquirido. E assim é para os muitos ouvintes no nordeste de Portugal: das 6 às 8 da manhã de segunda a sexta-feira, e aos sábados até às 10 horas. E, hoje em dia, através da Internet, também em todo o mundo. Contudo, tal não se aplica. O Tio João é uma exceção única no mundo atual da rádio. Ele é tão especial que até jornalistas de rádio holandeses e alemães já chegaram a falar dele nos seus programas.
Eu não posso afirmar que fiz parte desde o início, pois, nessa altura, eu já vivia no estrangeiro. Naquele tempo, durante uma visita a Portugal, a minha mãe, Maria das Graças Teixeira, chamou-me a atenção para uma viagem do Tio João à Espanha. E ainda hoje me lembro bem do Padre Manuel, que costumava sentar-se ao meu lado no autocarro, e encurtava o tempo da viagem contando as suas piadas. Partilhava o quarto com a Lúcia Afonso. Para além de um neto de 7 anos, eu, com 22 anos de idade, era de longe a participante mais nova da viagem.
Também o Tio João tinha alguns anos a menos. Sei que algumas das participantes da primeira viagem ficaram bastante surpreendidas por, num grupo de “gente grande”, haver um guia ainda tão jovem, que, por causa da sua idade, parecia mais indicado como “DJ” numa discoteca. “Eu sou visto por muita gente como sendo um filho, como sendo um neto”, disse uma vez o Tio João. Nos últimos anos, o seu papel poderá ter evoluído mais de neto para filho. Com o João André, o filho do Nicolau Sernadela, e a Tia Leninha, o papel do neto volta a ser preenchido. E com o João Lopes, de 8 anos de idade, a nova geração de netos está a contribuir com novos talentos musicais. Tal e qual como numa família: por uns temos de chorar, por outros nos alegramos.
Podíamos designar o Tio João como o Facebook em versão rádio ou o Facebook transferido para a realidade da rádio. Esta é a realidade: o Tio João já existia antes do Facebook e é bem mais real! Não se trata apenas da realidade quotidiana da rádio. Com as 261 viagens realizadas pelo Tio João e os piqueniques anuais, nos quais participam centenas de pessoas, representa também a vida real, a qualidade de vida e alegria de viver. O programa estabelece um contato real. Quando estou na cozinha e ouço o Tio João, consigo cheirar o pão da Tia Padeirinha, e os meus filhos sabem que a avozinha em Parada já sintonizou o programa do Tio João no seu rádio despertador ou que, quando há seca, talvez já esteja a regar a horta ou a alimentar as galinhas, os pombos ou os gansos, dependendo da estação do ano, é claro.
O facto de o Tio João nos dar esta possibilidade é algo único neste mundo e está longe de ser um dado adquirido. 
Maria-Irene Teixeira Hostettler