Que viva o Marão!

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A serra do Marão sempre foi o emblema mais expressivo do espírito transmontano e não deixou de o ser quando modernas vias rodoviárias lhe flanquearam os costados, a norte e a sul. Nem a Região terá ganho com isso tanto quanto se esperava.
Espera-se mais, agora que a mítica montanha foi trespassada de lés pelo profundo túnel que lhe minou as entranhas graníticas.
O túnel do Marão é, finalmente, uma realidade que, tudo leva a crer, se traduzirá em importantes ganhos de segurança, tempo, comodidade e poupança de sobressalentes e combustíveis.
Que o mesmo é dizer num estímulo forte e definitivo para a economia regional, nada justificando que se onere com portagens, seja qual for o seu valor, precisamente porque se trata de uma via fundamental, e porque em Lisboa se gastam milhões em obras viárias faraónicas, sem qualquer custo para os seus usufruidores diários. E lá diz o ditado: ou há moralidade, ou comem todos.
Mas para que o túnel do Marão represente um claro benefício para toda a Região é indispensável que a ineludível identidade transmontana não se esvaia pela serra esventrada e mais se afirme.
Que a poesia de Miguel Torga, de Teixeira de Pascoais, de Trindade Coelho e de Guerra Junqueiro seja lida, relida, sentida e declamada a plenos pulmões.
Que se erradique a iliteracia e a ignorância e mais se apure o carácter, o engenho e a hospitalidade dos transmontanos pela aproximação real, que não apenas virtual, ao progresso e à cultura.
Que a genuinidade dos produtos, a excelência do vinho, do azeite ou da castanha, do ar e das águas correntes e termais, possam ser apreciados no mundo inteiro, e bem pagos, proporcionando a justa qualidade de vida e riqueza a todos que vivem em Trás-os-Montes e mourejam nos seus campos.
Bastará, para tanto, que para cá do Marão mandem, de uma vez por todas, a verdade, a justiça, a inteligência e a democracia. Não o oportunismo e a estultícia de políticos menores subservientes do regimento político centralista.
Que se calem todos os caciques, tiques, fueiros, estadulhos, penedos, medos e pedregulhos que nos últimos anos denegriram a imagem de Trás-os-Montes e provocaram o seu empobrecimento, despovoamento e isolamento.
É tempo da Região ser dirigida e representada por transmontanos verdadeiramente empenhados na sua defesa e promoção e não por delegados partidários.
O Marão, e o seu túnel, deverão ser factores de liberdade e progresso, não de despovoamento e opressão.
Que viva o Marão!
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico por vontade do seu autor.

Por Henrique A. Pedro