Piedosos pagadores de promessas.

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A semana passada tomei conhecimento de três estudos originais a que reconheço igual mérito e interesse.
O primeiro assegura que beber vinho tinto antes de adormecer faz emagrecer e o segundo defende que comer chocolate não engorda, para gáudio dos gulosos.
Devo acrescentar, porém, para afastar más interpretações, que o primeiro estudo refere um copo de vinho tinto apenas e não bebedeiras de caixão à cova, e o segundo chocolate genuíno, amargo e preto, não açucarado, portanto.
O terceiro estudo, a que dediquei mais atenção, é um trabalho científico do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) citado pela TSF, que foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e que garante estarem os portugueses profundamente enganados quando acreditam que os políticos não cumprem o que prometem.
Porque, segundo o ISCTE, os governos dos últimos 20 anos cumpriram cerca de 60% do que haviam prometido. Realizaram, portanto, mais de metade das promessas que muito honestamente haviam inscrito nos seus programas eleitorais.
Atrevo-me a discordar, desde já, desta conclusão, porque se apenas cumpriram 60% não honraram plenamente a palavra dada. Ainda ficaram a dever 40%, o que é demais.
Este estudo do ISCTE é mais preciso, contudo: diz que António Guterres é o campeão dos pagadores de promessas, apesar de ter chefiado um Governo minoritário, já que cumpriu cerca de 85% do prometido, total ou parcialmente.
Segue-se-lhe José Sócrates, com quase 80% de cumprimento no seu primeiro Governo e Passos Coelho que, apesar da intervenção da Troika, esteve quase, quase, a cumprir 60%.
Malvados são os portugueses que apenas se contentam com 100% e nem um mentirazinha desculpam! Ou então o mal está nos estudos de opinião que não interpretam fielmente aquilo que o povo pensa.
Mais acertado seria concluir, quanto a mim, que os nossos políticos só em parte cumprem o que prometem e nunca se comprometem. Para lá de que há muitas coisas que nem às paredes confessam.
Jamais algum político prometeu, por exemplo, que endividaria o País da forma que se sabe, que empurraria milhares de portugueses para a emigração e lançaria muitos mais na miséria, que aumentaria os impostos ou que faria o desemprego crescer.
Nunca António Guterres prometeu que fugiria do pântano em que Portugal caiu para se pôr a salvo e ser mais feliz lá pela ONU, ou Durão Barroso que abandonaria o País para se refugiar na EU e depois servir a Goldman Sachs. Isto citando apenas os dois exemplos mais sonantes. Será que honraram os compromissos firmados com o eleitorado que os elegeu?
Não foi tornado público se o estudo científico do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) igualmente demonstra, ou não, que os nossos políticos também são piedosos pagadores de promessas quando garantem empregos e mordomias aos correligionários e facilidades aos financiadores.
Que os portugueses são perversos e mal-agradecidos já nós sabemos.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Henrique Pedro