O DESEMPREGO

PUB.

Fala-se muito de desemprego, do código do trabalho - grande preocupação é certo - mas pouco do trabalho propriamente dito, trabalho que conhece nos dias de hoje transformações bastante significativas.
Fundamentalmente, toda a gente sabe que o trabalho é, ao mesmo tempo, uma alienação e uma libertação. O trabalho-alienação aparece perfeitamente descrito na Bíblia ou, se preferem, no Hesíodo, o homem está condenado a trabalhar para assegurar a sua subsistência para a redenção ou castigo dum pecado - a palavra “trabalho” vem de “tripalium”, este instrumento de contenção e tortura – desculpem pelo pedantismo etimológico de passagem! Porém o trabalho é também o modo de se realizar, de florescer, por conseguinte de se libertar da contingência e de crescer, através das suas acções e interacções, mais do que se se estivesse sozinho ou ocioso. Pois bem, são estas duas dimensões, a alienação e a libertação, que se encontram directamente envolvidas pelas novas práticas laborais. 
Antes de mais, há uma grande fatia do trabalho diretamente dependente do mundo digital. Não é um fenómeno novo, a “informatização”, como se denominava então, marcou o último quarto do séc. XX para o melhor e para o pior. Destruiu todo o tipo de tarefas repetitivas nos escritórios de muitas instituições, portagens, supermercados …  Como a máquina destruiu o essencial do trabalho da força da indústria cem anos antes. A informática tornava o trabalho menos pesado, e o mundo digital inscreve-se exactamente na mesma orientação, com as mesmas vantagens, mas também com os mesmos inconvenientes. Claro que há antes de mais a necessidade de se adaptar ao digital, o que vai mudar a natureza do trabalho pela utilização de novos instrumentos, mas para além disso, a questão informática pode tornar muitos empregos vazios de sentido, aborrecidos, quase como um castigo, mais do que a exigência do trabalho.  
Mas o digital dá também flexibilidade, abolindo as distâncias. Permite em particular o famoso teletrabalho que, numa primeira abordagem, trouxe um fantástico progresso; poder ganhar o seu pão, sem sair de casa, sem gastar tempo nem gasolina, é um sonho tornado realidade, é também um sonho para a entidade patronal que economiza os metros quadrados de escritório. O problema é que quando se está em casa, não se  pode estar com os outros, está-se sozinho. Trabalhar com os melhores instrumentos informáticos que rompem com a distância, não é a mesma coisa, priva as pessoas de vida social, um dos benefícios do trabalho, da conversa do café até à conversa com os colegas à hora de almoço.
Estou certo de que há uma moral comum a todas estas descobertas que acabo de referir nem que seja, talvez, que não se pode ter a ilusão de que um trabalho que guardaria todos os seus benefícios na ordem da realização pessoal e da pertença social, mas que seria desprovida dos seus inevitáveis inconvenientes; o trabalho será sempre, ao mesmo tempo uma bendição e uma imprecação…

Por Adriano Valadar