À espera do comboio na paragem do autocarro

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Na primeira intervenção que faço principalmente para as pessoas do nordeste, vou falar daquilo que são as duas velocidades do ténis de mesa português ou, se quisermos, o ténis de mesa português a duas velocidades.
Terminou em Kuala Lumpur, na Malásia, mais um Campeonato do Mundo de Equipas, com a Selecção masculina de Portugal a repetir o honroso 5º lugar, que tinha obtido dois anos antes no Japão, e com a Selecção feminina a classificar-se na 45ª posição, ou seja, o último lugar da 2ª divisão mundial. Para os que estão mais por fora do assunto, fácil se torna concluir que os homens portugueses são talentosos, trabalhadores e sabem preparar-se em terra para depois se fazer ao mar. Por outro lado, as jogadoras portuguesas serão desprovidas de talento, desleixadas e nem a sua preparação desportiva elas sabem fazer.
A realidade, no entanto, não é essa e mesmo para um pequeno escrito sem grandes pretensões, devo desde logo dizer que, quem comanda os destinos da modalidade no nosso país, a Federação, não tem para os homens, nem para as mulheres um projeto verdadeiramente nacional e com produção nacional. Como dizia o consagradíssimo número oito do mundo, Marcos Freitas, em resposta, numa entrevista ao JN, de 27/02/16, “Se falta algo? Claro, não temos condições nenhumas”.
A escandalosa diferença marcada pelas classificações finais neste campeonato do mundo tem simplesmente a ver com o facto do João Monteiro, Tiago Apolónia, Marcos Freitas e o nosso transmontano João Geraldo terem emigrado para a Alemanha, fazem a sua preparação e jogam as suas competições no estrangeiro e depois representam Portugal nas grandes competições internacionais. Por outro lado, as quatro jovens jogadoras portuguesas que representaram agora o nosso país, Leila Oliveira, Cátia Martins, Patrícia Maciel e a nossa transmontana Rita Fins, vivem, treinam e jogam em Portugal e são vítimas da Federação que, não tem para elas nem para ninguém, um projecto verdadeiramente nacional que lhes permita treinar e evoluir para o alto nível e representar depois condignamente o nosso país nas provas internacionais.
Depois de diagnosticada a doença e uma vez que a selecção nacional masculina tem em parte, o seu problema resolvido, deixo aqui a prescrição técnica para as maleitas do sector feminino que, há pelo menos dois anos deveria estar a funcionar e se traduz na abertura e funcionamento em regime de regularidade das valências que o Centro de Alto Rendimento de Gaia pode oferecer ao ténis de mesa português. Para que se saiba e pegando apenas no exemplo das quatro jovens jogadoras da selecção nacional que estiveram agora na Malásia temos que, a Leila mora em Aveiro, a Cátia e a Rita moram em Gaia e a Patrícia, sendo da Terceira, estuda em Lisboa e poderia estudar no Porto.
Em jeito de conclusão, bem sei que a incompetência que manda na Federação e nos destinos do ténis de mesa no nosso país, não tendo estratégias para o desenvolvimento, tem e usa outras que se chamam desculpas esfarrapadas, como a falta de dinheiro mas que não pode colar, porque esse projeto até seria barato e a Federação até tem um presidente profissional. Como diz a canção, com estes dirigentes federativos o ténis de mesa português vai continuar à espera do comboio na paragem do autocarro.

 

 

Escrito por Isidro Borges (Presidente do CTM Mirandela)