A Rota das Marcas

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Ter, 12/07/2005 - 17:42


Todos aqueles que se interessam por alguma coisa que outros anteriormente fizeram, procuram coisas marcantes que assinalem, de um modo ou de outro, a sua passagem por um determinado lugar de poder. Sempre assim foi e continuará a ser.

Não há muitas outras formas de assinalar um determinado contributo à
sociedade, a não ser legar-lhe uma marca histórica.
Foi assim com os maiores estadistas mundiais e as grandes marcas permanecem como
as assinaturas de um certificado indestrutível. Foi assim com os grandes
imperadores romanos, foi assim com alguns reis da Idade Média, com Henrique
VIII, foi assim com Washington, com Roosevelt, com Kenedy, com Franco, enfim,
com Salazar. Umas maiores do que outras, todas as marcas são a assinatura de
uma obra que ficou para a posteridade.
Nem todas são do agrado de toda a gente o que demonstra que as pessoas são
plurais na sua apreciação, mas o que ninguém pode negar é que a obra está
aí, ficou! E marca uma época.
Para os que não gostam da obra ou do autor, é demasiado fácil apagar , ou
tentar apagar, essa memória, essa obra, essa assinatura, impondo-lhe outra, à
revelia do autor, o que é simplesmente uma fraude, ou seja, uma ilegalidade
ENORMÍSSIMA! Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Ponte Salazar que logo
após a revolução de 25 de Abril, no dia 26 passaram a chamar-lhe Ponte 25 de
Abril. Porquê?
Pois a este respeito li um panfleto da CDU, que indicava a rota dos erros do PSD
e do PS. Rota dos Erros! Fiquei deveras admirado quando constatei que os erros
eram afinal as principais marcas ou assinaturas de uma época de governação.
E ao enumerar as obras do Polis, a recuperação do rio Fervença, a Estação
de Camionagem, o Mercado Municpal, o Túnel, a Praça Camões e o Teatro
Municpal, como erros, sinceramente não entendi de imediato a abrangência de
tal demagogia. Ou se calhar entendi muito bem, mas nunca esperei que se
chegasse tão longe na apreciação negativa das coisas marcantes da cidade.
Podem não agradar a todos, como disse, mas marcam uma época, um estilo, um
progresso imenso.
De todas as marcas, se calhar um dos maiores erros foi a construção da Etar,
mas não é seguramente um atentado premeditado contra o ambiente e contra a
economia! Se a construção fosse mais abaixo 500 metros, já não era um
atentado! Porquê?
O Mercado Municipal é uma obra a todos os títulos, exemplar. Só é um
elefante branco porque se vê ao longe e ninguém se aproxima o suficiente para
constatar que não faz mal a ninguém! Tomara muitas cidades ter um Mercado como
este! E não há desculpas quando se evoca a distância para justificar a pouca
afluência ao local. Todos vão à Câmara Municipal pagar a sua conta da
água, as taxas e licenças e tratar de todas coisas que aí se resolvem. Pois
o Mercado é logo ao lado! Todos vão à Segurança Social, claro! Mas o
Mercado é logo ao lado! E as condições de higiene que aí há, valem por
todas as distâncias!
O Teatro Municipal é uma das maiores referências desta governação municipal.
Não há nada a dizer, nem mesmo quanto ao espaço envolvente, já que o mesmo
irá ser objecto de alindamento a curto prazo. Nem tudo se pode fazer de um dia
para o outro! E o Fórum? O que há com ele? Nada. As contas são com as
finanças e com os Tribunais e parece que afinal estão todas em condições!
Mas isso não faz parte da assinatura. A marca está lá e permanecerá para
sempre.
Então o Túnel é uma obra faraónica? Será que Bragança não a merecia? Não
só resolveu os problemas de escoamento de trânsito, como deu a toda a área de
Vale d'Álvaro uma acessibilidade directa ao centro da cidade em menos de dois
minutos!
E a Praça Camões? É um deserto de ideias porque, com excepção de algumas
instituições, efectivamente, ninguém se aventura a ali realizar eventos
dignos desse nome. Porquê? É um belíssimo espaço e com estacionamento à
distância de um salto!
O Monumento ao 25 de Abril, esse sim, é de facto demasiado grande e até
inestético. O seu enquadramento não é o melhor e a sua enormidade é
exagerada. Mas será sempre uma marca, no sítio errado, talvez, mas isso é
outra análise.
Quanto ao Parque da Trajinha e ao Projecto a instalar no local, não poderemos
dizer que é megalómano. Nós é que se calhar, estamos habituados a pensar
pequeno. Vamos acreditar que aquele espaço poderá vir a ser uma referência
marcante da cidade em dias futuros. Sem pressas!
Bom e a Estação de Camionagem está ao nível das melhores da Europa e eu
conheço algumas! Poderá haver um ou outro desencontro de interesses dos
viajantes, mas todos são unânimes em enaltecer tal obra. Para quê desfazer
no que está bem feito? Só por demagogia pura!
Pois é! Todos podemos criticar o que os outros fizeram! É demasiado fácil!
Fazer, ter ideias, deixar marcas, isso é bem mais difícil! O certo é que a
cidade há oito anos atrás não tinha nenhuma destas marcas de grandeza, de
progresso e de referência de uma época. Não tinha quase nada! Afinal a rota
dos erros crassos que a CDU aponta, não é mais do que a Rota das grandes
obras marcantes desta cidade! Como é que é possível ser-se tão demagógico?