Romaria de Mirandela hipotecada

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Ter, 21/06/2005 - 15:00


As seculares Festa de Nossa Senhora do Amparo, que decorrem em Mirandela, estão em risco de não se realizar

Com a anunciada penhora de bens e receitas, a confraria não tem qualquer espaço de manobra para suportar as despesas daquele que é um dos ex-libris dos mirandelenses.
Para perceber a situação é necessário recuar às festas de 1995, quando um jovem foi atingido por um foguete que lhe causou lesões muito graves, no decorrer do habitual espectáculo de fogo de artifício.
Na sequência do acidente, a família avançou com um processo em tribunal, exigindo o pagamento duma indemnização de 450 mil euros, valor superior aos 250 mil euros cobertos pelo seguro da festa. Contas feitas, existe uma diferença de 200 mil euros, quantia que o tribunal entendeu que tem de ser paga à família da vítima.
Desde o acidente até à sentença, em 1999, mesmo depois da tomada de posse da actual Mesa da Confraria, nunca houve qualquer acordo entre as partes, o que fez inflacionar o montante da indemnização para 300 mil euros.
E foi precisamente a actual Mesa da Confraria, liderada por Rui Magalhães desde Abril último, que se dispôs a dialogar para resolver o assunto, incluindo a “resolução de questões litigiosas existentes” no plano de actividades e orçamento.
Segundo o responsável, pretendia-se chegar a um acordo neste e noutros casos, através da elaboração de um plano de liquidação das dívidas existentes.

Diálogo falhou

Perante a ameaça de penhora, a Confraria decidiu emitir um comunicado a alertar a população para a situação. É que se as festas, que habitualmente decorrem de 25 de Julho até ao primeiro domingo de Agosto, não se realizarem, conhecem a primeira interrupção dos últimos 150 anos.
Segundo a Confraria, não há condições materiais nem legais para organizar a romaria, dado que o requerimento de execução da penhora incide sobre grande parte dos bens e fontes de receita da confraria.
O requerimento de execução de penhora solicita o congelamento das contas bancárias, a penhora do terreno anexo ao santuário (onde costumam instalar-se os divertimentos do luna parque), do produto da recolha aluguer e venda de quotas, petos, casamentos, baptizados, ofertórios, artigos religiosos, donativos, verbenas, subsídios da Câmara e Junta de Freguesia, donativos da procissão, peditório público, publicidade sonora, e leilão.
Sendo assim, e a menos que haja recuo e um acordo entre as partes, a Mesa da Confraria não tem condições para realizar as festas.
Ao que foi possível apurar, Rui Magalhães já contactou, novamente, os representantes da família da vítima para tentar articular um acordo, mas sem grandes resultados, dado que a questão se arrasta há seis anos e a paciência está a chegar ao fim.
Mesmo assim, Rui Magalhães ainda tem esperanças em ver o problema resolvido através de um plano de pagamento que não prejudique a família lesada nem a organização das festas.