Racismo e Xenofobia: Os Vocábulos da Moda

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Ter, 14/06/2005 - 15:46


As palavras, como expressão do pensamento humano, são um conjunto de sons articulados que se associam semanticamente a coisas, objectos e ideias que povoam o nosso mundo real e imaginário. Ou seja, é através delas que concebemos o mundo, porque lhes atribuímos conteúdos significativos e valores referenciais.

Ainda que esta pequena introdução o possa sugerir, a minha intervenção de hoje não tem por objectivo reflectir sobre questões linguísticas, mas, tão – somente, chamar a atenção para a forma como certos auto – intitulados defensores das minorias (esquecendo-se que o fenómeno da Aculturação não se dá sem cedências e sem roturas), evocam, inapropriadamente, os vocábulos racismo e xenofobia, para caracterizar o suposto sentimento da maioria dos nativos deste país, em relação à comunidade cigana.
Sem terem, em rigor, o mesmo valor semântico, estas duas palavras cruzam-se na significação genérica que veiculam. Racismo e Xenofobia são, pois, princípios doutrinários cujos seguidores preconizam a rejeição e o desprezo do/ e pelo Outro, pelo estrangeiro, por quem não é da sua raça, reclamando para si a distinta linhagem.
Na qualidade de não racista, não xenófobo, não estudioso do comportamento do homem em sociedade, de defensor (com regras) da integração plena das minorias, e de cidadão minimamente atento, atrevo-me a discordar da ideia de que os portugueses, de um modo geral, manifestam sentimentos racistas e xenófobos.
Sem dúvida, somos um povo com muitos defeitos, e que mantemos, é certo, alguma indisciplina cívica e hábitos pré – históricos. No entanto, parece-me extremamente injusto ligar a lusa gente a sentimentos desta natureza, quando o nosso passado é marcado pela Tolerância, pela Solidariedade e pela Hospitalidade na amistosa convivência com as mais diferentes raças e culturas.
No meu entender, a aparente antipatia que os não ciganos nutrem pelos ciganos prende-se fundamentalmente com duas questões: por um lado, a dificuldade do primeiro aceitar alguns aspectos da cultura do segundo, traços que, curiosamente, os tornam genuínos; por outro, a injustiça social resultante da aplicação, por parte da nova geração de políticos, do modelo do Estado Previdente – situações para as quais, a seguir, retiro os devidos exemplos.
Num estabelecimento de ensino da cidade de Bragança, um professor de Educação Física, depois da aula, ordenou que um dado aluno, de etnia cigana, tomasse banho – procedimento habitual, nestas circunstâncias, seguido pelo resto da turma. Como o referido aluno não gostou muito da proposta do docente, fez queixa aos pais. Estes, por sua vez, foram falar com a Assistente Social (da Câmara, presumo), que se apressou a informar o professor e a restante comunidade educativa para a necessidade de se respeitar a cultura deste grupo étnico. Por outras palavras: foi descurada, nesta escola, a cultura do surro; o que é grave, diga-se!
Outro motivo de desagrado, e que dá origem a uma certa revolta a quem sente na pele os efeitos da pesada máquina fiscal, através de impostos e de outras formas de contribuição, é a Política de Integração da comunidade cigana. Caso paradigmático, em confronto com a citada etnia, é o dos meus pais – verdadeiros exemplos de vida, e que como eles há milhentos. Trabalharam uma vida inteira. Como resultado do esforço laboral, conseguiram “ educar “ os filhos e adquirir casa própria. Mas porque são pessoas sérias e honestas, à sua magra reforma retiram-lhe, anualmente, quase cem contos de Contribuição Autárquica. Ao invés, à maior parte da etnia em questão, que defende intransigentemente a cultura da ociosidade e da sorna, e a quem o Estado garante o Rendimento Mínimo, o município desta cidade concede, de mão beijada e sem quaisquer contrapartidas, um tecto condigno.
Vistas as coisas nesta perspectiva, custa-me aceitar o termo “exclusão social” – na moda, à semelhança de “racismo” e “xenofobia” –, quando aplicado às pessoas em causa. Afinal, aqui, quem é excluído?! Quem é socialmente injustiçado e discriminado?!
É, com efeito, julgo eu, o somatório de todas estas incongruências que, por exemplo, faz com que os moradores das aldeias, onde a Câmara Municipal pretende realojar a referida comunidade cigana, reajam negativamente à ideia dessa coabitação. Não por motivos rácicos, não por qualquer sentimento de pertença em relação ao território, não porque os ciganos perpetuam certos rituais, como o acto de lançar o chapéu ao ar, simbolizando a oficialização do enlace matrimonial, não, com certeza, por andarem descalços, mas por manifesta incompatibilidade cultural.
A minha relação com os ciganos que fogem ao paradigma é a mais saudável e cordial possível. Por isso, se o Sr. Presidente da Câmara de Bragança me quiser obsequiar com uma casa junto deles, terei o maior prazer em os ter como vizinhos. Ser na Sarzeda, em Donai ou em Carragosa, é indiferente. Sempre poupava 80 contos de prestação mensal, ao banco, pelo meu apartamento.