Promessas ou contratos com os Santos

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Ter, 12/07/2005 - 17:38


"Do Porto a Coimbra aqui a cruzar-me com vagas sucessivas de peregrinos de Fátima. Estropiados, descalços, de pernas entrapadas, lá seguiam tenazmente e penosamente a esturrar o coração e as varizes num desafio mudo, a que outros, de dentro dos automóveis, os olham com um misto de espanto e incomodidade".

Foi este excerto do "Diário XII", de Miguel Torga, que me deu coragem para escrever sobre um assunto tão complexo: as promessas.
Há cerca de 34 anos, ouvi em, Inhambane - Moçambique, o Revº Padre Castro, no púlpito, cheio de imposição, alertar para que os paroquianos não pagassem promessas.
Dizia: "Orem, rezem, mas deixem-se de contratos com Nossa Senhora e os Santos. "Ó minha Nossa Senhora, concede-me isto que eu dou-te aquilo...".
Claro que fiquei escandalizada com este sermão, pois também tinha fé nas promessas.
Mais, tarde, uma amiga minha regressou de Fátima, onde cumpriu uma promessa, e vinha com os joelhos em ferida.
Já discordando desta forma de demonstrar a fé, pedi opinião ao Revº Padre Marques, ao que ele respondeu: "É mais fácil para as pessoas cumprirem uma promessa, pois sentem-se libertas; é que a conversão pelo coração exige mais esforço!... Tem de ser todos os dias!".
A seguir, ouvi um sermão ao saudoso falecido Padre Dr. Videira Pires, em que disse aos devotos que podiam rezar pelos filhos, pela saúde, mas que o mais importante era rezar e dar Graças a Nossa Senhora. Mesmo que, no nosso entender não tenhamos nada a agradecer, devemos dar Graças por ser Mãe de Jesus e nossa Mãe. Mas, apenas para nos socorrer nas nossas necessidades espirituais.
Associando as ideias dos três sacerdotes e por experiência própria, cheguei à conclusão que não se devem fazer promessas.
Surpreende-me, pois, que a hierarquia eclesiástica não alerte os fiéis, deixando que estes "contratos" continuem a tomar conta da fé cristã, como se deste "negócio" advenham benefícios...

Maria Inácia Fernandes
Lagarelhos - Vinhais