Os ciganos

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Ter, 03/05/2005 - 20:09


Há quase dois anos que uma equipa liderada pela Câmara Municipal de Bragança tenta realojar diversas comunidades de etnia cigana em algumas aldeias do concelho.

Os esforços têm-se revelado infrutíferos, devido à resistência das populações, que rejeitam qualquer co-habitação com famílias ciganas. Por isso, o projecto de realojamento vai marcando passo e as barracas em que vivem alguns elementos daquela etnia tardam em ser demolidas.
Na Avenida Abade de Baçal, por exemplo, as velhas casas junto à Escola do Campo Redondo continuam a dar guarida a famílias ciganas, que vivem em condições pouco dignas.
O processo é moroso e a disseminação das famílias pelas aldeias do concelho é, sem dúvida, a solução ideal, atendendo aos casos de sucesso registados em algumas freguesias, como é o caso de Rebordãos. Mas, antes de tudo, é preciso saber se as comunidades em causa estão dispostas a trocar a cidade pela aldeia e se o processo realojamento no mundo rural substitui, de facto, a construção de um bairro social na cidade.
Na verdade, se o bairro for pensado na perspectiva de um gueto, delineado unicamente para concentrar todas as famílias de etnia cigana que hoje vivem em barracas, ele resultará num fracasso. Mas será que um bairro social só serve para realojar famílias ciganas? Não haverá mais cidadãos na cidade e no concelho carentes de habitações condignas?
Recorde-se que uma grande parte dos Bairros do Fomento da Habitação que se fizeram por esse País fora nas décadas de 70 e 80 serviram, precisamente, para facilitar o acesso a uma casa às pessoas com menos recursos financeiros. Em muitos desses bairros foram realojadas comunidades de etnia cigana que, após, o embate do primeiro contacto com uma “habitação de verdade”, hoje estão perfeitamente integrados na sociedade.
É que a integração da comunidade cigana não tem de ser feita, necessariamente, nas aldeias. Pode ser feita na cidade, desde que haja vontade para construir um bairro social onde co-habitem diferentes culturas e se criem condições para evitar a exclusão social.