O tempo precisa de momentos!

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Ter, 03/05/2005 - 20:07


Somos, cada vez mais, uma sociedade apressada, agitada, embrulhada na confusão!

“É preciso dar tempo ao tempo”, reza a sabedoria popular e com muita razão. Só que, para os tempos de hoje, a teoria é muito linda, mas a prática já não é o que era. Já basta a pressa com que se vive, a velocidade com que se anda e a fruta verde (amadurecida à pressão) que se come! Nada disso nos dá saúde. E é pena nem sequer termos tempo para saborear as coisas e os momentos bons da vida.
Somos, cada vez mais, uma sociedade apressada, agitada, embrulhada na confusão. Inventámos a doença do “stress”; falta inventar a Alta Autoridade para o Stress! Come-se a correr (“fast food”), mastiga-se à pressa (problemas digestivos), dorme-se agitado (mau humor), fala-se nervosamente (palavrões em off), escuta-se apressadamente (“não me chateies”, “fala p’ró boneco”), atravessa-se a rua a correr (“que queres, ó morcão?”), cruzamo-nos em alta velocidade (com cara de sexta-feira santa e rugas a danificar o look).
Estamos na “cultura” do pronto-a-servir, do pronto-a-vestir e do pronto-a-impingir e do... pronto-a-morrer! Parece que nascemos cansados e parece que andamos empurrados (por quem? por quê?) e fugidos (de quem?). Talvez, fugidos de nós próprios, sem, afinal, nos encontrarmos.
Hoje, uns vivem o tempo sem “momentos”; outros misturam o “tempo” com os “momentos”, numa amálgama de dias sem acontecimentos e de acontecimentos sem dias, esquecidos que estão de que a vida é feita de tempo e de momentos.
Se soubermos valorizar o tempo, perceberemos a importância dos “momentos” e, ainda, que os momentos dão sabor ao tempo. É assim na vida do casal, da família, de uma empresa, de uma associação, na vida de cada pessoa. Para muitos, já não se faz anos no mesmo dia em que se nasceu: é no sábado seguinte.
Quando era adolescente, nos bancos da escola, ouvi um professor dizer-nos: “o tempo não perdoa o que se faz sem ele”. Não percebi, mas fixei. Agora, penso nas feridas, físicas e morais, que precisam de tempo para cicatrizar. Agora, penso no pudim feito em fogo lento, tão diferente do instantâneo. Agora, penso no valor acrescido, consolidado, do estudante de todos os dias, tão diferentes dos diplomas pagos e via Internet. Agora, penso que é um povo que, no fazer do tempo da sua história, tem o direito de celebrar os momentos do seu tempo.
Com isto, estou a abrir caminho para falar do povo que me foi confiado que fez o Vale, no seu centro, unindo esforços, objectivos, interesses, e irmanando o tempo com os momentos, a vida com a celebração, o quotidiano com a festa. É deste modo que podemos falar dos nossos antepassados que se plantaram neste concelho, povoando o Vale da Vilariça de vida, de cultura, de trabalho e de festa, de tempo e de momentos, deixando herança e tradição.
Hoje, somos nós os continuadores, nada inventando, mas re-apresentando, sem substituir nem adulterar. Fazer as Festas do povo de Deus é isso mesmo: é traduzir, em linguagem de hoje, a cultura do povo destas Paróquias. O associativismo, o bairrismo, a piedade cristã, a confraternização sem condomínios, são raízes que nos dão alento para despertarmos a sonolência do tempo e fazermos o momento de encontro com Deus e de uns com os outros uma Festa verdadeira!

Pe. José Rodrigues