Memórias de um benfiquista

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Ter, 24/05/2005 - 15:23


Entrar no lagar de Manuel António Sarmento é deparar com um mundo de curiosidades, com um álbum de recordações de um filho de Rebordelo, que rumou a Lisboa para ingressar nas fileiras da GNR.

Os 30 anos passados na capital permitiram-lhe recolher os objectos que a passagem à reforma haveria de ajudar a recuperar. Com tempo e vontade para preservar o vasto espólio, Manuel Sarmento, 62 anos, já pensa em alargar o espaço para continuar com o seu passatempo preferido naquela aldeia do concelho de Vinhais.
A diversidade é grande, mas há velharias que merecem destaque. É o caso duma pistola que os alentejanos usavam para impedir que lhes roubassem as colheitas. “Tinha um fio que fazia accionar a pistola e disparar um cartucho por altura da cintura”, explica o guarda aposentado.
Mas há mais. Os pulverizadores de sulfato em cobre, uma ratoeira de coelhos, ferros de passar à moda antiga, pistolas de outros tempos e alfaias agrícolas completam um pequeno museu onde se encontra de tudo.
E, porque o Benfica acaba de sagrar-se Campeão Nacional, convém destacar o emblema em cobre do clube da águia, pois Manuel Sarmento gosta de vincar a sua alma benfiquista. Aliás, não é à toa que este coleccionador nato guarda uma relíquia no jardim, que todos os adeptos do clube da águia gostariam de ter.

Banco vindo da Luz

Nada mais, nada menos do que um banco de plástico retirado dos lugares cativos do antigo Estádio da Luz. “Quando o estádio foi demolido, eu fui lá e comprei o banco por 25 euros, pois eles estavam a vendê-los”, recorda Manuel Sarmento com indisfarçável orgulho benfiquista.
Quanto às restantes peças do museu improvisado, tudo começou há 12 anos, quando o ex-agente da GNR regressou a Rebordelo e trouxe na bagagem algumas velharias que haveria de recuperar. Foi assim que surgiu a ideia de adaptar o lagar para guardar e mostrar este mundo de curiosidades.
Muitas das velharias foram compradas na Feira da Ladra, em Lisboa, e, talvez por isso, a grande maioria dos objectos seja da zona Sul. “Por onde passo, seja em feiras ou aldeias, compro algumas coisas que depois recupero. Dá trabalho, mas com gosto faz-se tudo”, explica o coleccionador.
A passagem de Manuel Sarmento pela Banda de Música da GNR é perpetuada através dos instrumentos musicais de sopro que também constam do espólio. Mas, um dos objectos mais apreciados (à excepção do emblema do Benfica, claro!) é um prato redondo, onde foram colados selos de Presidentes da República de todo o Mundo.
Isto para não falar duma máquina de afiar lâminas de barbear, que foi usada pelo próprio coleccionador durante o tempo de tropa.