Final de Agosto

PUB.

Qua, 24/08/2005 - 16:51


O Agosto está a chegar ao fim e leva consigo milhares de transmontanos que tiveram de procurar outras paragens para conseguir aquilo que a terra natal lhes negou.

Após a alegria da chegada, com a fronteira no horizonte, segue-se um regresso mais penoso, já a pensar no próximo Natal.
Quem por cá fica também nota a diferença. As estradas ficam mais vazias, o trânsito abranda nas ruas das cidades ou vilas e consegue-se sentir o peso desta imensidão de gente que partiu à procura de novas oportunidades.
Mas, quem conheceu de perto os meses de Agosto de outros tempos, garante que as férias já não são o que eram nas terras transmontanas. Aldeias que viam a população triplicar durante 30 dias do ano, têm as festas quase às moscas. As mordomias desunham-se para arranjar dinheiro para pagar aos grupos de baile, fogo de artifício ou bandas de música, mas já há falta de gente em quantidade para contribuir e dividir todas as despesas.
É que nos tempos que correm, já há quem não tenha um elo que os prenda à terra, sendo este o grande drama de dezenas de aldeias transmontanas. Os pais e avós morreram, as casas ficaram ao abandono e as motivações para regressar às origens são cada vez menos.
Por isso, já há aldeias onde o Verão quase passa despercebido e onde as casas continuam vazias, tal como no resto do ano.
Este é o novo fenómeno da desertificação, que nos faz pensar no que vai acontecer quando os mais velhos deixarem o Mundo Rural. É que em Trás-os-Montes e Alto Douro já há casos de aldeias fantasma, onde ninguém quis ficar, depois das gerações mais antigas terem partido.
Pelo andar da carruagem, ainda vamos ter muitas mais. Há exemplos desta tendência por todo o lado. Assim que os pais, avós e outros familiares deixam este mundo, há jovens que passam o Agosto sem regressar à terra natal. Fixaram-se, entretanto, noutras paragens, constituíram família e, sem a presença dos pais e avós, não têm motivos para visitar a sua aldeia. Dá que pensar, porque a desertificação já é preocupante, mas pode, ainda, estar a começar.