Fé sem fronteiras

PUB.

Ter, 10/05/2005 - 15:41


Centenas de portugueses e espanhóis participaram anteontem na Romaria Internacional em Honra de Nossa Senhora de Fátima, que se realizou na aldeia de Petisqueira, concelho de Bragança, e em Villariño de Manzanas (Espanha).

Tudo começou há 20 anos, quando as populações destas duas localidades raianas decidiram organizar uma festa capaz de fazer cair as fronteiras, nem que fosse só por um dia.
A tradição foi ganhando raízes e, hoje, a Romaria Internacional é motivo de aproximação entre portugueses e espanhóis, contando com a presença de autarcas e outras entidades dos dois países.
A festa decorre em simultâneo ao longo das margens do rio Maçãs, que divide Portugal e Espanha, onde se instalam dezenas de feirantes e algumas tasquinhas de comes e bebes.
Um dos momentos altos da romaria tem lugar no pontão sobre o rio, onde se dá o encontro dos portugueses que transportam o andor de Nossa Senhora de Fátima e dos espanhóis que carregam a imagem desta santa. Os andores saem das igrejas das respectivas localidades e são levados aos ombros de mulheres e homens que, com uma caminhada de dois quilómetros sob um sol escaldante, pretendem pagar uma promessa.
Com as águas do Maçãs aos pés, os párocos de Petisqueira e de Villariño de Manzanas trocam abraços e preparam-se para celebrar uma missa campal em duas línguas, para que todos os fiéis entendam a mensagem.

Caminho alcatroado

É assim que portugueses e espanhóis demonstram que a fé em Nossa Senhora de Fátima não conhece fronteiras. Este ano até houve motivos de sobra para festejar, dado que a Câmara Municipal de Bragança alcatroou o caminho em terra batida que liga a Petisqueira ao pontão sobre o rio Maçãs. A situação não passou despercebida ao pároco da aldeia, padre Américo Lima, que, no início da eucaristia, vincou a utilidade da obra.
Em 1985, quando arrancou a primeira edição da romaria internacional, não se pensava em tal coisa. O pontão sobre o Maçãs era feito com umas simples tábuas em madeira, que os populares tinham de retirar no final da festa, dado que as autoridades só autorizavam a circulação de pessoas entre os dois países durante 24 horas.
Hoje, a vigilância permanente da Guarda Fiscal e dos “carabineiros” é, apenas, tema de conversa durante a partilha de farnéis e a tarde de convívio que encerra a festa, ao som de bandas de música e grupos de gaiteiros dos dois países.

Romarias transfronteiriças

A romaria em honra de Nossa Senhora de Fátima, de resto, é apenas uma das manifestações de fé do distrito de Bragança que contribui para unir os dois países.
As festividades transfronteiriças começaram em Abril passado, com a romaria de Nossa Senhora da Luz, em Constantim, concelho de Miranda do Douro, que conta com a realização duma procissão com andores de ambos os lados da fronteira.
Ainda durante este mês, a aldeia de Quintanilha, no concelho de Bragança, junta milhares de portugueses e espanhóis na festa em honra de Nossa Senhora da Ribeira, onde também não falta a eucaristia celebrada em português e espanhol. Em Agosto, é a vez do Portelo, igualmente no município bragançano, organizar uma festa falada em português e espanhol.