A Falar dos Santos Populares

PUB.

Ter, 14/06/2005 - 15:50


Estamos no mês de Junho e com ele a alegria e reinação tão próprias das festas de Santo António, São João e São Pedro, os santos mais populares entre todos. Seriam manifestações vulgares, não fosse o facto das pessoas os imaginarem à sua maneira, à sua semelhança, ao jeito dos seus gostos, para os poderem amar profundamente, com a intensidade com que se vivem as noites de Santo António em Lisboa e São João no Porto.

O povo deu ao Santo António, uma carinha rosada de adolescente, com uma alma prazenteira e jovial, tanto à feição das cantigas poéticas e buliçosas entoadas e bailadas em todas as festas que lhe são dedicadas. A poesia popular acompanha-o nestas celebrações, como se o tivessem ali mesmo, juntinho à fonte, no meio de moçoilas enfeitiçadas e casamenteiras.
Santo António à minha porta
e eu sem ter que lhe dar
vou oferecer-lhe um manjerico
para por no seu altar.

No altar de santo António
está um vaso de açucenas,
onde vão as moças todas
a chorar as suas penas.

A este santinho, tão popular e gentil, pede-se um bom casamento, fazem-se promessas sem fim e reza-se o conhecido responso, aquando do sumiço de qualquer objecto ou de algum animal doméstico. Conhecem-se vários por estas bandas mas, transcrevo apenas o mais usado:
Santo António se deitou
Santo António se alevantou,
Suas mãos santas lavou,
P’ró Paraiso caminhou.
Lá no meio do caminho,
Jesus Cristo encontrou.
E Jesus Cristo lhe «precurou»:
- P’ra onde vais, António?
- Eu consigo irei, Senhor.
- Tu comigo não irás,
Na terra ficarás,
o perdido aparecerás
e o esquecido lembrarás.

Em honra de … com um Padre Nosso e uma Avé Maria.

Em Vinhais também se realiza uma grande romaria, em honra deste santo, mas só no primeiro domingo de Setembro. Para os mais velhos, ele é o nosso Santo Antoninho, o protector dos animais, o ídolo da religião, o feitiço das suas almas. As ofertas são variadas, especialmente dinheiro, mas ainda há romeiros que trazem fumeiro, orelhas e pé de porco, galos, galinhas, coelhos e leitões e alguns persistem em oferecer o alqueire de cereal, tudo arrematado «p´ra ver quem dá mais para o santo».
A festa é realizada com o produto dessas ofertas e de outras acumuladas ao longo do ano e no próprio dia da celebração.
Apesar de todas estas manifestações repletas de sentimentos da mais pura religiosidade, a figura de Santo António não se fica por aqui, não se resume apenas e tão só a isto! As suas qualidades morais e intelectuais, como homem, teólogo e pregador, fazem-no subir a uma fasquia muito mais elevada. Foi já em Itália, pelo ano de 1222 que se relevou um exímio orador sagrado! Desenvolveu uma actividade apostólica intensa naquele país, bem como em Bolonha, Toulouse, e Montpellier, em França, onde ensinou teologia com brilho e muito êxito.
Foi canonizado em 1233, dois anos após a sua morte e o Papa Pio XII declarou-o Doutor da Igreja, tendo em conta o valor teológico dos seus sermões, no ano de 1946.
Nasceu em 1190 e viveu alguns anos em Lisboa e, pelo facto, os Portugueses querem que seja o Santo António de Lisboa, ao contrário dos Italianos que defendem que é Santo António de Pádua, por ter vivido alguns anos em Itália e aí ter falecido, em 1231.
Esta disputa acesa que se verificava já no tempo de Leão XIII, fez com que este pontífice afirmasse solenemente que Santo António não era apenas deste dois países, mas o Santo de TODO O MUNDO.

António Afonso