COM O FREIO NOS DENTES

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Ter, 10/05/2005 - 16:40


Sempre que do povo nasce um ditado popular, ele já vem com uma carga de experiência muito grande, a suficiente para lhe garantir credibilidade. Além dos ditados populares, o povo tem expressões muito engraçadas que, não sendo adágios, são verdadeiras regras saídas de comparações vivenciadas no seu dia a dia.

Uma delas é precisamente "com o freio nos dentes".
Assim, sem mais nada que lhe acrescente qualquer sentido, a expressão pouco
diz, a não ser para os que já a conhecem. No entanto, ela refere-se ao
momento em que um cavalo fica com o freio preso nos dentes, levando a que ele
não obedeça ao cavaleiro e corra sem parar.
Pois esta expressão adapta-se perfeitamente aos que, julgando-se intocáveis,
correm passando por cima de tudo e de todos numa tentativa louca de levantar o
pó que outros hão-de limpar de seguida. É verdade que às vezes resulta e é
necessário, especialmente para acordar os que, dormindo, se vão libertando de
responsabilidades! Mas nem sempre é este o objectivo.
É o que se passa agora com o presidente dos sociais-democratas. Ninguém
imaginava que ele iria enveredar por caminhos tão ínvios como os que está a
trilhar. Numa tentativa de afirmação, está a tomar atitudes que lhe podem
trazer dissabores enormes. A posição dele para com os candidatos às
autarquias de renome como Lisboa, Oeiras e Gondomar, está a pôr o PSD em
polvorosa e a acarretar imensas vozes contra a prepotência do partido e do seu
líder.
De facto, não compete ao presidente do partido escolher os candidatos às
autarquias, segundo os estatutos vigentes, mas sim às bases, isto é, aos
plenários concelhios e distritais. Só depois são propostos à Direcção
Nacional que os homologa naturalmente. A isto chama-se democracia. À atitude
que o líder do PSD tem tomado chama-se autocracia. Ora o poder autocrático,
deixou de ser exercido há muito tempo neste país. Tomar o freio nos dentes e
correr por cima de tudo e de todos, não está de acordo com o que ele disse no
Congresso Nacional. Pois é! Nos Congressos dizem-se muitas coisas, mas depois
cumpri-las é mais difícil. O que é preciso é ganhar o momento, depois logo
se vê!
Depois, vêm as desculpas para justificar as atitudes. Uma vez mais
apresentam-se as vertentes políticas para escudar o pronunciador das
posições pessoais. A política serve para muita coisa!
A outra vertente da questão é a situação que é criada aos candidatos,
vários, à mesma autarquia, correndo o risco de as perder para independentes e
levar o partido à ruína. Será que não há ninguém que lhe faça ver a
realidade das coisas? O poder não pode ofuscar tão cegamente a liderança e o
líder, ao ponto de lhe permitir cometer erros tão graves como estes!
Todos sabemos que ele não gosta de Santana Lopes. Já o disse. Sabemos
igualmente que ele não está sintonizado com Isaltino de Morais nem com o
Major de Gondomar. Até podemos concordar com a sua posição se, para tal
analisarmos as situações dos candidatos. Têm rabos-de-palha. Claro! Não
quer correr riscos de difamação dos candidatos que lhe poderão trazer
amargos de boca ao partido. Talvez tenha razão. Mas ganhar um município é
muito mais importante e além disso não se cilindram indivíduos do partido
como os que está afazer.
Há preços proibitivos, mesmo até em política! A razão ou razões que
poderão justificar certas atitudes, devem ser discutidas dentro de portas e
não na praça pública. No caso vertente, até podemos concordar com os
rabos-de-palha que os candidatos têm, mas não é por isso que deixam de ter o
apoio do povo e continuam a ser autênticos ganhadores.
Marques Mendes até pode querer limpar o partido, expurgá-lo de certos
condicionalismos, mas não é pelos métodos que está a aplicar. O braço de
ferro que está a trocar com os candidatos, leva por arrastamento, para a lama,
os que os vão substituir. Vamos supor que Isaltino concorre como independente e
ganha a Câmara. Vamos igualmente partir do pressuposto que Valentim Loureiro
ganha Gondomar como independente e o mesmo para Lisboa, onde Santana terá de
fazer as malas e, possivelmente voltar à Figueira para ganhar novamente o
município, deixando Carmona perder em Lisboa. Se isto acontecer, o que resta a
Marques Mendes? E como fica o PSD? Pois é!
É caso para dizer que lhe tirem o freio dos dentes antes que se magoe ou seja
tarde de mais. Esta prepotência não é nada saudável. Mesmo até, dando-lhe
o benefício da dúvida, esta posição autocrática não leva o partido a lado
algum e muito menos o seu líder. Freio sim, mas para parar a inquietude e o
nervosismo já! Amanhã... ele pode já lá não estar!