Cereja na estrada

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Ter, 14/06/2005 - 16:08


Nesta altura do ano as estradas nacionais da região enchem-se de guarda-sóis e dezenas de banquinhas de venda de cereja. Ir de Macedo de Cavaleiros a Moncorvo, por exemplo, é deparar com inúmeros destes pontos de venda improvisados, onde o preço, calibre e qualidade do produto são deixados ao critério do agricultor ou do vendedor.

Não existem rótulos capazes de identificar a região, não existe registo de proveniência da fruta e, se o consumidor não ficar satisfeito, talvez tenha a sorte de encontrar o mesmo vendedor quando voltar a passar pela estrada onde comprou as cerejas.
É por estas e por outras que entramos num hipermercado de Bragança e vemos Cereja da Cova da Beira certificada com Denominação de Origem Protegida e devidamente acondicionada em caixas de plástico. Aqui sim, existem garantias de qualidade e uma porta para reclamar quando o produto não agrada.
A cereja transmontana, por seu lado, vai ficando para trás e não aparece no tal hipermercado. Não porque não tenha qualidade, mas porque as organizações de produtores do sector não conseguiram ganhar dimensão ao ponto de fornecerem as grandes superfícies, o principal veículo de escoamento das produções agrícolas de todo o País.
E, como o produto não consegue competir nos circuitos normais de comercialização, há várias toneladas de cereja que vão ficando nas árvores, porque não vale a pena gastar dinheiro na apanha sem ter garantias de escoamento.
Noutros casos, a cereja é vendida na berma da estrada, fazendo concorrência às próprias organizações de produtores, já por si fragilizadas pela concorrência de além fronteiras, pela queda dos preços e pelos elevados custos de mão-de-obra.
Começa assim, a funcionar um mercado paralelo em que a venda dos produtos não entra nas contas das cooperativas agrícolas, dos agrupamentos de produtores e das associações de agricultores, agravando a debilidade destas estruturas.
Depois há casos de certames organizados na região, como a Feira da Cereja de Alfândega da Fé, onde a própria Cooperativa Agrícola decidiu ficar de fora. Por este andar, muita cereja vai apodrecer no chão.