Barragens do Douro podem parar

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Ter, 21/06/2005 - 14:56


Se o governo espanhol accionar a cláusula de excepção para armazenar mais água no outro lado da fronteira, a produção de energia no Douro pode diminuir ou, mesmo, parar.

Esta é a convicção do administrador-delegado do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM), Francisco Lopes, face à redução de caudais que se tem registado no Douro desde o Inverno passado.
Numa altura em que Portugal e Espanha atravessam um período de seca, a água chega em menor quantidade às barragens portuguesas Miranda do Douro, Pocinho, Bagaúste e Crestuma), pertencentes ao sistema hidroeléctrico do Douro.
Dados do Instituto Nacional da Água (INAG) revelam que o caudal do Douro tem sofrido reduções desde Outubro passado, a começar na albufeira de Miranda, que marca a entrada do rio em Portugal.
A edição de quinta-feira do jornal Público, por seu lado, revela que, este ano, Espanha já desrespeitou os acordos relacionados com a passagem de água nos rios internacionais, pondo em causa a Convenção Luso-Espanhola de Albufeira, assinada em 1998 pelos dois países.
Francisco Lopes, porém, considera que a navegação turística no Douro não vai ser afectada, alegando que o rio “também tem os seus afluentes e Espanha, como tem necessidade de produzir energia, tem de soltar água”.

Bombagens em Aldeadavila

A questão, contudo, prende-se com as bombagens que são feitas no troço internacional do Douro, que não deixam a água chegar a Portugal. É o caso da barragem de Aldeadávila, na zona internacional do Douro, já perto de Freixo de Espada à Cinta.
No local existe um sistema de bombagem que canaliza a água utilizada na produção hidroeléctrica de Aldeadavila para a albufeira de Almendra, já no rio Tormes. Deste modo, Espanha utiliza água do Douro para alimentar as turbinas de Almendra, situação que também contribui para diminuir as reservas da albufeira do Pocinho, a primeira barragem no troço português do Douro. Aliás, não é à toa que a quantidade que entra na albufeira de Miranda do Douro é bem menor do que a que chega à barragem do Pocinho. O passado dia 2 de Maio é o mais emblemático em termos de diferença no nível das barragens e caudais. Enquanto o caudal médio da barragem de Miranda foi de 197 metros cúbicos por segundo, no Pocinho não chegou aos 30 metros cúbicos.

Prioridade à navegação

Confrontado com a possibilidade do governo espanhol accionar o regime de excepção, Francisco Lopes não teme perdas significativas, mas garante que, se os caudais baixarem drasticamente, as três barragens do troço português do Douro podem parar. “Numa situação dessas a prioridade é o abastecimento de água às populações e a navegação turística”, explicou o administrador do IPTM.
De qualquer forma, o responsável assegura que o Douro “tem uma folga muito grande ao nível da navegação turística”, pelo que não teme consequências para o sector, nomeadamente ao nível da redução do calado das embarcações.
“Vamos acompanhar o problema com a preocupação que ela nos merece, mas sem exageros, porque o Douro tem, de facto, menos caudal, mas a situação mais anormal registou-se no Inverno, em que se armazenou muito pouca água”, explica Francisco Lopes.