As árvores morrem de pé e os cavalos também se abatem

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Ter, 14/06/2005 - 16:02


É verdade que ao longo da vida somos obrigados a tomar decisões de acordo, não com a nossa verdadeira opção, mas relacionadas ou impostas por situações alheias à nossa vontade.

Isso quer dizer que as decisões não
podem significar um acordo e muito menos uma anuência aos princípios
orientadores da situação que os impõem. No entanto, ao tomarmos essa
decisão, queremos tentar modificar as coisas, como se contrariando a própria
vontade, elas se compusessem. Como poderiam? Impossível!
De qualquer forma, as tentativas existem para serem feitas e usadas como tal e
para tudo há tentativas. Algumas são óptimas e, como tentativas, têm o
objectivo de alcançar vitórias extraordinárias. Na verdade, a descoberta de
qualquer coisa de novo, é feita com base em tentativas. Mas não é todos os
dias que se descobrem coisas novas, ou se quisermos, não é todos os dias que
se faz uma invenção extraordinária. Era bom!
Pois bem, o que têm as árvores e os cavalos com tudo isto? Muito!
Especialmente em sentido figurado, tal como as tentativas de mudança, com a
esperança de surgirem coisas novas.
Ao referirmos que as árvores morrem de pé, queremos dizer que apesar de
estarem bem enraizadas, morrem da mesma forma sem ser necessário derrubá-las.
Morrem simplesmente. Acaba o seu ciclo de vida. Do mesmo modo, os cavalos,
símbolo da força, tenacidade, perseverança e fogosidade, também acabam por
tombar, vítimas de qualquer contratempo ocasional.
Bem, temos agora a certeza de duas coisas: nem tudo dura para sempre e mesmo o
que parece mais duradoiro pode cair a qualquer momento. É claro que isto leva
a outra conclusão, de algum modo lógica. Tudo acaba, tudo muda!
Pois é. Perante alguma facilidade e ineficácia do governo de coligação,
apesar de tudo, o povo português quis castigar de algum modo essa actuação e
tentar mudar para melhor o estado das coisas. Votou e votou bem. Ganhou o PS e
todos estávamos na esperança de uma mudança para melhor e do cumprimento de
todas as promessas feitas anteriormente, apesar de todos sabermos que as
promessas de campanha não são para cumprir! Com maioria absoluta, tais
raízes profundas e seguras, iniciava uma corrida fogosa e tenaz. Aí estava o
novo governo. O tal que vinha para mudar as coisas. O tal que vinha com toda a
vontade de mudar e agir. E até... agiu!
Subiu os impostos, subiu os anos para a reforma, subiu o nível de vida, vai
obrigar todos os portugueses a pagar as scuts, mesmo os que não têm sequer
auto-estradas (como nós), vai baixar as reformas e vai manter inalteráveis os
vencimentos dos funcionários públicos, ou quase, proibindo a mudança de
escalões. Isto tudo para quê? Para tentar estabilizar a economia portuguesa,
que está mal, mas que ele, o primeiro-ministro, sabia perfeitamente como
estava há já seis anos. Qual era a admiração?
A economia portuguesa não se compadece com estas tentativas, especialmente se a
fizermos depender de uma Europa enorme onde somos aceites somente pela nossa
pacatez, pelo nosso Sol, pelas praias, clima e ambiente. A nós tudo exigem e
em troca dão-nos uns trocados para construirmos pontes e estradas e talvez...
um TGV!? Será?
Arrastados por uma globalização que se impõe contra a vontade de muitos,
envolvidos por um Não à Constituição europeia e por um referendo que nos
assusta porque não está explicado, pertencemos a um espaço cada vez mais
alargado e ao mesmo tempo constrangido por normas falaciosas que, mais tarde ou
mais cedo, farão ruir o sonho de Jean Monet se não soubermos afirmar-nos por
outras formas. E depois?
Pertenceremos sempre a esta Europa das nações. A este velho continente.
Seremos sempre, para nosso consolo e satisfação, o país das descobertas. E
de que serve isso? Isso chega aos governos? O que estará primeiro? A nossa
economia ou o nosso país? O Portugal de todos nós ou a Europa dos outros,
onde não nos deixam pôr o pé em ramo verde? Como é que o governo vai
resolver o problema?
A Itália, com problemas idênticos, propôs a saída da zona euro. Foi uma
proposta. E nós? O que propomos? Continuamos a pagar impostos cada vez mais
altos para satisfazer as exigências da Europa, quando a França e a Alemanha,
ultrapassam os níveis de convergência económica e ainda se julgam os donos
de todos os outros países, não se importando grandemente com isso. É isso
que faremos. Que remédio!
Afinal este governo, que chegou cheio de pujança e com uma previsível
duração, tal qual a árvore e o cavalo referidos, que fez? O que está a
fazer? O que vai acontecer?
Bem, depois, tal como as árvores, este governo vai acabar por morrer de pé.
Simplesmente. Mas se assim não for, fiquemos com a certeza de que, tal como os
cavalos, o governo também se abate, pelo voto... claro! Afinal tudo muda, não
é?