Artesãos vão à escola

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Ter, 03/05/2005 - 17:54


Os alunos do Jardim-de-Infância de S.Tiago, em Bragança, receberam, na passada quinta-feira, a visita de vários artesãos do Nordeste Transmontano, que mostraram aos mais pequenos como nascem os objectos e os alimentos.

Confeccionar o queijo, amassar o pão, fazer cestos, fiar, moldar a madeira, trabalhar o barro e pintar foram algumas das artes que artesãos da cidade, mas também do Mundo Rural ensinaram aos mais novos.
Segundo a coordenadora daquele estabelecimento, Natália Ramalho, esta iniciativa insere-se no projecto anual designado “A cidade nasceu aqui”, dentro do qual estão a ser realizadas várias actividades com as crianças, com vista ao desenvolvimento da estética e do espírito criativo dos alunos”.
Os mais pequenos ficam fascinados com a magia de dar forma às matérias-primas e procuram aprender a fazer. “Estamos a ensinar-lhe as profissões e, mediante, este tema decidimos trazer à escola profissões actuais e outras, que apesar de estarem em vias de extinção, são características da região”, acrescentou Natália Ramalho.

Profissões em vias
de extinção

Cármen Gonçalves vive na aldeia de Edrosa, no concelho de Vinhais, e trabalha a lã há mais de 60 anos. “Comecei a aprender com a minha mãe. Era uma garota quando lhe fugia com a roca e comecei a fiar”, recorda a artesã.
Esta fiadeira confessa que tem pena que a sua arte possa morrer. Por isso, é com grande orgulho e entusiasmo que ensina as crianças a sua profissão.
“As crianças encontram graça a este trabalho. Quando eu puxo o fio e torço eles ficam entusiasmados e também querem fiar”, salienta Cármen Gonçalves.
O marceneiro de Rebordãos, Manuel Afonso, também mostrou aos mais pequenos como se trabalha a madeira para fazer objectos utilitários e decorativos.
Aos 60 anos aceitou o desafio do neto e começou a fazer engenhos alusivos aos trabalhos do campo. “Toda a vida me dediquei à agricultura. Hoje já não posso e distraio-me a fazer estes trabalhos manuais”, refere o marceneiro.

Dispostos a aprender

A cestaria de Cidões, no concelho de Vinhais, também esteve representada por Hulema Pires. “Desde os 12 anos de idade que me lembro ir para o monte apanhar piorno, vime e salgueiro para fazer cestos. Antigamente este era um utensílio fundamental no quotidiano de qualquer casa, como o caso do cesto de costura, que era uma peça fundamental”, recorda a artesã.
As crianças ficaram curiosas mas, ao mesmo tempo, admiradas quando olhavam para os materiais e, posteriormente, para o resultado do trabalho dos artesãos. “Apesar de serem alunos muito pequeninos eles estão dispostos a aprender e acabam por ficar a saber como nascem os objectos e como se fazem os produtos alimentares”, conclui a coordenadora do Jardim-de-Infância.