“A Angústia dos Exames”

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Ter, 06/09/2005 - 15:30


Numa breve e ocasional incursão pelas páginas do semanário “ A Voz de Trás – os – Montes”, na edição de 28 de Julho, dei de caras com um artigo intitulado “ A Angústia dos Exames”, cujo autor, de nome Vítor Olo, tomando, provavelmente, como verdade de fé as novas teorias norte-americanas das Ciências da Educação, predicava contra a realização das provas de exame do 12º, a nível nacional.

A força argumentativa deste senhor assentava em que os exames “ servem para criar angústia nas famílias e provocar em alguns jovens desequilíbrios emocionais…” Adiantava ainda que os alunos, em consequência dos ditos, eram confrontados com situações de “perda de apetite, vómitos e dores de cabeça”. O subscritor do referido texto, numa afronta obsessiva à classe docente – muito na moda nos dias de correm -, chega mesmo a afirmar que “existe gente que consegue tirar prazer com o sofrimento de outros!” Alguns professores fazem-no – prossegue – assistindo sadicamente a uma situação de exames…”
Porque o tema Educação me é caro, porque durante o meu percurso académico, desde o ensino primário ao superior, passei por várias experiências de exames (sem, contudo, me ter deixado tomar por quaisquer sentimentos traumáticos ou angustiantes), e, sobretudo, porque sou pai e encarregado de educação, deixo aqui expressa a minha incondicional defesa pelas provas de exame, pela firme convicção de que este mecanismo de avaliação, ainda que longe de ser perfeito, é capaz de assegurar a seriedade e a transparência do nosso Sistema de Ensino.
Na minha modesta opinião, em resposta às motivações do estado de alma agregadas pelo senhor Olo, a melhor forma de alicerçarmos o futuro dos homens e mulheres do amanhã, em vez de lhes evitarmos frustrações, pelo “ facilitismo”, é mentalizá-los de que a estrada da vida só é possível de percorrer com sucesso, depois de se ultrapassarem os inúmeros obstáculos e adversidades que ela nos reserva.
É evidente que as situações “penosas”, de constrangimento, nos causam ansiedade, angústia e outros estados de espírito que, por vezes, se reflectem em alterações de ordem fisiológica. Mas todos estes comportamentos são identificados, pelos entendidos, como normais, por fazerem parte do processo de maturação do indivíduo. Negá-lo, em meu entender, é aceitar a prática do porreirismo e ter como objectivo primeiro as saídas mais fáceis.
Numa outra abordagem, entendo que as novas teorias apregoadas são falaciosas e inexequíveis, pelo facto do ensino em Portugal, pelas mais diversas razões, carecer de uniformidade. Para fundamentar esta minha proposição, e sem provocar, julgo, qualquer tipo de pasmo, recorro a um exemplo mesmo debaixo dos nossos olhos.
O Liceu e a Escola Industrial de Bragança (ainda não me habituei aos nomes por que agora são designados), gozam dum invejável prestígio, decorrente da qualidade de ensino ministrado e do grau de exigência. Dois acessórios fundamentais que não se verificam em outros estabelecimentos de ensino. E tanto assim é que - longe de serem casos pontuais - há alunos destas duas escolas, tidos como medianos, no desempenho lectivo, que optam por se transferirem para outras estruturas de ensino, e, como que por magia, transformam-se aí em alunos brilhantes. O caricato da situação vem depois: quando os mesmos são submetidos ao exame nacional, ou chumbam, ou tiram notas modestas; o que, tanto para os professores (generosos), como para as instituições representadas é pouco dignificante.
Outro exemplo aberrante é o que se passa com o “ensino paralelo”. Ou seja, alunos que, não conseguindo, por dificuldades de aprendizagem, ter sucesso no ensino normal, solucionam o problema, matriculando-se no Ensino Técnico – Profissional. Estes estabelecimentos de ensino, que deviam, apenas, administrar cursos para os quais estão vocacionados, são, ardilosamente, utilizados, por concederem equivalências ao 12º ano, como verdadeiros trampolins para aceder ao ensino superior.
Estes dois cenários são a prova evidente de que os ditos exames não só são desejáveis, como essenciais, porquanto garantem a equidade e a justiça no nosso sistema educativo. Pena é que o peso da nota de exame não seja mais significativo. 60 a 70% seria o ideal. Aliás, o que valida mais o carácter de premência desta forma de avaliação é o exemplo dos últimos exames do 9º ano, autêntica radiografia do país: 70% dos alunos postos à prova, nas disciplinas de Português e Matemática, tiveram nota negativa. Curiosamente, para deleite dos bragançanos, a Escola Industrial inverteu a percentagem nacional: houve 70% de positivas.
Diria mais: sou defensor de que a prática deste tipo de exames se devia instituir depois da conclusão de qualquer licenciatura, sempre que os diplomados em causa pretendessem servir o Estado, à semelhança do que acontecia em tempos mais recuados, prova de competência que tinha a designação de Exame de Estado, como ainda hoje acontece em países de referência, nomeadamente na vizinha Espanha, na Alemanha e muitos outros. Assim, os recém licenciados nas áreas das Letras, das Matemáticas, das Engenharias, das Físicas, das Químicas, em Enfermagem, etc., nas cadeiras nucleares, testavam os seus conhecimentos, numa espécie de tira – teimas, perante um júri nacional. Porque – apenas a título de exemplo -, não queiramos comparar o grau de dificuldade e de exigência dum curso de engenharia da Universidade do Porto com o apresentado na sua congénere de S. Brás de Alforrecas!
É perfeitamente natural que neste nível as coisas fiem mais fino. Num sistema de ensino demasiadamente pluralista e anárquico, como é o nosso, as regras são ditadas pelos Interesses Instalados. Sendo que a solução, para quem não concorda com o rumo seguido, só pode ser a da entrega, pela impotência, à resignação angustiada.