Água não move moinhos

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Ter, 03/05/2005 - 17:50


Os moinhos de Palácios e S.Julião, no concelho de Bragança, estão parados desde o início do Inverno, devido à escassez de água nas ribeiras da região.

A população de Palácios conta que não há memória de um ano tão seco. Todos os anos os habitantes desta aldeia utilizam o moinho comunitário para transformar em farinha o trigo e o centeio colhido na zona da Lombada, que, posteriormente, é utilizado para cozer o pão e para sustentar os animais.
“Este ano a chuva foi pouca e a ribeira não acumulou água suficiente para fazer rodar o moinho. É uma pena porque o moinho é da população, podíamos moer lá sem qualquer custo e, assim, temos que recorrer a moinhos a martelo e eléctricos para esmagar o cereal”, lamenta Esmeralda Aliste, uma habitante de Palácios,.
Inocência Cavaleiro vive nesta localidade desde que nasceu. Aos 81 anos está admirada porque o Moinho da Ribeira não teve força para moer, mesmo em pleno Inverno.
“Não me lembro que este moinho tenha parado por causa da seca. Há dois anos fui lá moer uns sacos de centeio para dar aos porcos e às galinhas e foi difícil lá chegar. A água era tanta que até saltava acima do tractor”, lembra com saudade Inocência Cavaleiro.

Moinho nunca parou

Por sua vez, Maximino Alves, residente em Palácios e tesoureiro da Junta de Freguesia de S.Julião, salienta a importância do moinho para a aldeia. “Faz- nos muita falta porque é o único que a aldeia tem e toda a gente ia lá moer”.
Este habitante recorda que o Moinho da Ribeira chegou a moer em pleno mês de Junho. Actualmente, a população teve que recorrer a outros métodos para transformar o cereal que colheu e viu-se obrigada a comprar farinha para cozer o pão.
“É uma necessidade porque, para além de cevar os animais, havia muita gente que lavava o trigo para fazer farinha, que depois de peneirada é usada para cozer o pão nos fornos a lenha. Faz-se aqui um pão de categoria, muito mais saboroso que o comprado”, enaltece Maximino Alves.

O fado da vida rural

Já Inocência Alves, também habitante de Palácios, conta o fado de quem chegava a levar 20 e 30 sacos de 50 quilos de cereal e passava dias e noites no Moinho da Ribeira.
“Carregávamos os carros de bois, que agora foram substituídos pelos tractores, e levávamos também a merenda. Assávamos lá chouriças e acompanhávamos com pão caseiro. Enquanto houvesse cereal para moer, o moinho trabalhava dia e noite e só regressávamos a casa quando o trabalho acabava”, relata a popular.
Palácios ainda tem outro moinho no Rio Maçãs, mas, como já tem muitos anos, encontra-se em ruínas. “O moinho precisa de obras. A Junta já pediu ajuda ao Parque Natural de Montesinho, mas ainda não tivemos uma resposta”, afirma Maximino Alves.
Nesta aldeia, onde a população vive da agricultura, o baixo caudal dos rios e ribeiras e o baixo nível dos poços e nascentes preocupa quem investe o pouco que tem na sementeira dos campos.
“Se não chover, os fenos não medram, não há água para regar as hortaliças e podemos mesmo ficar sem água para beber”, teme Esmeralda Aliste.
Em S.Julião, o Moinho da Ribeira também está parado e a população tem que se deslocar ao Moinho do Rio Maçãs para fazer face às necessidades.